MARIA NO EVANGELHO DE JOÃO
João escreveu o seu
evangelho por volta do ano 90-100 d.C. É também autor do livro do Apocalipse.
Tanto o quarto evangelho com o livro do Apocalipse apresentam, por serem os
escritos mais tardios, uma reflexão bem mais madura sobre Jesus.
O Evangelho de João está
dividido em três partes:
a) Prólogo (Jo 1, 1-18)
b) Livro dos Sinais (Jo 1,19 –
12,50)
c) Livro da Exaltação (Jo 13-20)
Menciona a Mãe de Jesus em
três ocasiões: uma indiretamente, na encarnação do Filho de Deus (Jo 1, 14), e
as duas de uma maneira bem explicita: as Bodas de Caná (Jo 2, 1-12) e na Morte
de Jesus (Jo 19, 25-27).
1)
Jo 1,14: (PROLOGO)
E o Verbo divino se fez
carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória,
como a glória do unigênito do Pai.
Embora o texto não
mencione Maria, porque a intenção do autor é mostrar a origem divina de Jesus
(Verbo de Deus), dá-se a entender que Ela está implícita no processo da
encarnação de Jesus (“e habitou entre nós”). Não podemos, em hipótese alguma,
afirmar que este é um texto mariano, mas quando se fala em “encarnação” do Verbo
Divino, Maria é lembrada.
2) Jo 2, 1-12 (AS BODAS DE
CANÁ)
1 Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia,
e estava ali a mãe de Jesus;
2 e foi também convidado Jesus com seus discípulos
para o casamento.
3 E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe
disse: Eles não têm vinho.
4 Respondeu-lhes Jesus: Mulher, que tenho eu
contigo? Ainda não é chegada a minha hora.
5 Disse então sua mãe aos serventes: Fazei tudo
quanto ele vos disser.
6 Ora, estavam ali postas seis talhas de pedra, para
as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas (medida antiga equivalente a cerca de 40
litros).
7 Ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas.
E encheram- nas até em cima.
8 Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao
mestre-sala. E eles o fizeram.
9 Quando o mestre-sala provou a água tornada em
vinho, não sabendo donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham
tirado a água, chamou o mestre-sala ao noivo
10 e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho
bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o
bom vinho.
11 Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná
da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
12 Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe,
seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias.
Este relato encontra-se
inserido no chamado “bloco dos sinais”. É cheio de uma simbologia muito grande.
Os sinais apresentam um sentido de revelação da pessoa de Jesus e têm uma
intima relação com a fé. Quando Jesus realiza um milagre, este serve de sinal
para que as pessoas vendo possam acreditar em Jesus. Em Mateus, Marcos e Lucas,
os milagres que Jesus realiza indicam o poder de Deus sobre as forças do mal.
Os sinais que o quarto
evangelho mencionam também expressam a Glória de Deus, que com Jesus, aos
poucos vai se manifestando ao mundo.
Analisando o texto…
Um primeiro dado
interessante que se percebe à primeira vista é que João não menciona o nome
“Maria”. Ele refere-se a Maria chamando-a de “Mulher” ou “Mãe de Jesus” (seis
vezes). A explicação é simples: João gosta de apresentar certas pessoas como
modelos de seguidores do projeto de Jesus. Maria, portanto, é um modelo, uma
figura símbolo que aceitou a mensagem de Jesus.
Apesar de ser uma festa de
casamento, os personagens principais não são os noivos e sim Jesus e Maria.
Apesar de usar uma linguagem de um casamento, João quer mostrar, com este
relato, que o pacto (casamento) entre o povo da Antiga Aliança (Israel) e Deus
estava desgastado, sem vida, vazio, devido o abismo do pecado.
O relato data muito a sequência
dos dias, com destaque especial “ao terceiro dia” , alusão simbólica à Aliança
no Monte Sinai (Ex 19, 11.9) e principalmente à Ressurreição de Jesus.
Ao fazer chegar até Jesus
a problemática da falta de vinho, Maria se apresenta como aquela que,
conhecendo as necessidades da humanidade, pede ajuda para Jesus. Aqui está
simbolizado o papel de intercessora atribuído a Maria.
A primeira reação de Jesus
ao afirmar “Mulher, que tenho eu contigo” (ou, que importa a mim e a ti),
parece ser um tanto ríspida com relação a Maria, mas serve para ilustrar o
deslocamento de perspectiva: que Jesus chama os seus interlocutores (na pessoa
de Maria) para perceber um outro nível de sua presença.
A palavra “mulher” pode
representar três ideias:
·
Pode
lembrar Gn 3, referindo a Eva-Mulher que trouxe o pecado ao mundo. Assim Maria,
a nova Mulher trouxe a salvação, Jesus;
·
Maria,
Mulher, pode representar todo o povo de Israel (Filha de Sião);
·
Pode
traduzir todo o reconhecimento da figura feminina na comunidade de João pelo
papel evangelizador que as mulheres desempenhavam no testemunho do Evangelho.
Depois de realizar o
milagre da transformação da água em vinho, o relato tem um desfecho muito significativo.
E é para lá que apontava João: Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná
da Galileia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele. (
v11). Com isso, o autor acentua a centralidade do relato: mostrar quem é Jesus
(aquele que traz o vinho novo, a Nova Aliança, o Novo Pacto, a alegria, a
plenitude, a graça, a salvação) e a fé dos discípulos que aderem ao projeto do
Filho de Deus. E todo o projeto do Reino de Deus é simbolizado através da
figura das Bodas, o grande Banquete, as Núpcias do Cordeiro, a grande Festa da
plena e definitiva alegria. Jesus é o novo NOIVO.
Maria-mulher é aquela que leva os discípulos a
crerem em Jesus. Incentiva os filhos a fazerem a vontade do seu Filho.
3) Jo 19,
25-27 (MARIA JUNTO À CRUZ)
v25 Estavam em pé, junto à cruz de Jesus, sua mãe,
e a irmã de sua mãe, e Maria, mulher de Clôpas, e Maria Madalena.
v26 Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e ao lado dela
o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
v27 Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E
desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.
O texto mostra que estavam
presentes junto à cruz de Jesus quatro mulheres: a mãe de Jesus, uma irmã de
Maria, Maria esposa de Cléofas e Maria Madalena e também o discípulo amado.
As mulheres, como já
vimos, representam o serviço generoso e destacado que elas exerciam na
comunidade; o “discípulo amado” representa o modelo ideal de todo cristão que
apesar das contrariedades e cruzes da vida, permanece fiel a Cristo.
Ao colocar Maria junto à
cruz de Jesus, o autor do livro, quer:
v
simbolizar
a presença da mãe sofredora que sempre esteve ao lado de Jesus e de todo aquele
que sofre;
v
fazer
uma relação entre as Bodas de Cana onde Maria esteve presente no inicio das
atividades do seu Filho, como no pleno cumprimento de sua missão, através da
morte da Cruz.
Tanto o discípulo amado com Maria, são
representações da Igreja:
Ø
Maria
como geradora de novos filhos (mulher, membro constitutivo da Igreja e mãe da
comunidade);
Ø
O
Discípulo amado como representante de todos os fiéis que seguem Jesus custe o
que custar.
Resumindo, podemos sintetizar a figura de Maria no
quarto evangelho como:
– discípula
fiel
– pessoa de
fé
– mãe da
comunidade
– mulher
solidária
Fonte: (<igrejamilitante.com>)
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